28.7.10

Outra Nota ao Acaso

Toda a arte é uma forma de literatura, porque toda a arte é dizer qualquer coisa. Há duas formas de dizer – falar e estar calado. As artes que não são a literatura são as projecções de um silêncio expressivo. Há que procurar em toda a arte que não é literatura a frase silenciosa que ela contém, ou o poema, ou o romance, ou o drama. Quando se diz “poema sinfónico” fala-se exactamente, e não de um modo translato e fácil. O caso parece menos simples para as artes visuais, mas, se no prepararmos com a consideração de que linhas, planos, volumes, cores, justaposições e contraposições são fenómenos verbais dados sem palavras ou antes por hieróglifos espirituais, compreenderemos como compreender as artes visuais, e, ainda que as não cheguemos a compreender ainda, teremos, ao menos, já em nosso poder o livro que contém a cifra e a alma que pode conter decifração. Tanto basta até chegar o resto.

Álvaro de Campos, in “Presença”, nº48, Coimbra, Julho de 1936

Nota ao Acaso


O poeta superior diz que efectivamente sente. O poeta médio diz o que decide sentir. O poeta inferior diz o que julga que deve sentir.
Nada disto tem que ver com a sinceridade. Em primeiro lugar , ninguém sabe o que verdadeiramente sente: é possível sentirmos alívio com a morte de alguém querido, e julgar que estamos sentindo pena, porque é isso que se deve sentir nessas ocasiões. A maioria da gente sente convencionalmente, embora com a maior sinceridade humana; o que não é com qualquer espécie ou grau de sinceridade intelectual, e essa é o que importa no poeta. Tanto assim é o que não creio que haja, em toda a já longa história da Poesia, mais que uns quatros ou cinco poetas, que dissessem o que verdadeiramente, e não só efectivamente, sentiam. Há alguns, muito grandes, que nunca o disseram, que foram sempre incapazes de o dizer. Quando muito há, em certos poetas, momentos em que dizem o que sentem. Aqui e ali o disse Wordsworth. Uma ou duas vezes o disse Coleridge: pois a Rima do Velho Nauta eKubla Khan são mais sinceros que todo o Milton, direi mesmo que todo o Shakespeare. Há apenas uma reserva com respeito a Shakespeare: é que Shakespeare era essencial e estruturalmente factício; e por isso a sua constante insinceridade chega a ser uma constante sinceridade, de onde a sua grandeza.
Quando um poeta inferior sente, sente sempre por cadernos de encargos. Pode ser sincero na emoção: que importa, se o não é na poesia? Há poetas que atiram com o que sentem para o verso; nunca verificaram que não o sentiram. Chora Camões a perda da alma sua gentil; e afinal quem chora é Petrarca. Se Camões tivesse tido a emoção sinceramente sua, teria encontrado uma forma nova, palavras novas – tudo menos o soneto e o verso de dez sílabas. Mas não: usou o soneto em decassílabos como usaria luto na vida.
O meu mestre Caeiro foi o único poeta inteiramente sincero do mundo.

Álvaro de Campos, in “Sudoeste”, nº3, Lisboa, Novembro de 1935

15.7.10

Neste Verão as palavras sorriem! Passatempo

Civilização incentiva à leitura com oferta de livros

Com o intuito de incentivar a leitura dos portugueses, numa altura que habitualmente têm mais tempo para dedicar aos livros, a Civilização Editora acaba de lançar uma campanha de Verão exclusiva com oferta de livros.
“Neste Verão as palavras sorriem” é o slogan da campanha e www.aspalavrassorriem.com o endereço do microsite que reúne toda a informação acerca desta iniciativa.
Para participar, o leitor deverá registar-se no microsite da campanha até ao dia 31 de Agosto de 2010, encontrar a(s) palavra(s) escondida(s) e escolher o livro que gostaria de ler. Existem regras diferentes para quem comprou um livro ou para quem recebeu um convite via WEB. Ambos os regulamentos estão disponíveis no microsite da campanha, bem os livros disponíveis para oferta.
Para ajudar a encontrar as palavras escondidas, há diariamente informações na homepage do microsite. Faça parte desta campanha
e fique atento ao microsite, ao Facebook e ao Twitter da Civilização.

Não deixes passar esta oportunidade. Segue o nosso exemplo e PARTICIPA!

A equipa Tastethisbook

11.7.10

Crítica: “Nunca me esqueças”, Lesley Pearse

Editora: ASA
Páginas: 432
Preço: 13,50 €

Sinopse:

Até onde iria por amor?
Num dia…
Com um gesto apenas…
A vida de Mary mudou para sempre.
Naquele que seria o dia mais decisivo da sua vida, Mary – filha de humildes pescadores da Cornualha – traçou o seu destino ao roubar um chapéu.
O seu castigo: a forca. A sua única alternativa: recomeçar a vida no outro lado do mundo.

Dividida entre o sonho de começar de novo e o terror de não sobreviver a tão dura viagem, Mary ruma à Austrália, à época uma colónia de condenados. O novo continente revela-se um enorme desafio onde tudo é desconhecido… como desconhecida é a assombrosa sensação de encontrar o grande amor da sua vida. Apaixonada, Mary vai bater-se pelos seus sonhos sem reservas ou hesitações. E a sua luta ficará para sempre inscrita na História.
Inspirada por uma excepcional história verídica, Lesley Pearse – a rainha do romance inglês – apresenta-nos Mary Broad e, com ela, faz-nos embarcar numa montanha-russa de emoções únicas e inesquecíveis.


Sobre a autora: Uma das escritoras preferidas do público português, Lesley Pearse é autora de uma vasta obra já traduzida para mais de trinta línguas, tendo vendido cerca de três milhões de exemplares. A própria vida da escritora é uma grande fonte de material para os seus romances, quer esteja a escrever sobre a dor do primeiro amor, crianças indesejadas e maltratadas, adopção, rejeição, pobreza ou vingança, uma vez que conheceu tudo isto em primeira mão. Ela é uma lutadora, e a estabilidade e sucesso que atingiu na sua vida deve-os à escrita. Com o apoio da editora Penguin, criou o Women of Courage Award para distinguir mulheres comuns dotadas de uma coragem extraordinária. Na ASA estão já publicados com grande sucesso os seus romances Nunca Me Esqueças e Procuro-te.



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Opinião: Este livro baseou-se numa história verídica, que conta uma parte da vida de Mary Broad.
Mary Broad trata-se de uma filha de humildes pescadores da Cornualha, que irá passar por muitos sofrimentos, depressões, paixões, traições e humilhações. Mary saiu de casa dos pais para Plymonth à procura de uma melhor vida, no entanto esta nunca imaginaria que a sua vida pudesse tornar-se num inferno. Conheceu pessoas erradas que, apenas com 20 anos a levaram até ao banco dos réus por ter roubado um chapéu. O preço a pagar? A forca! Os relatos dos dias passados nas prisões foram descritos de uma forma bastante dura, cruel e desumana, mas que ainda assim Mary demonstrou ao longo de toda esta aventura uma força e um instinto de sobrevivência inigualável, o que me deixou com um a grande admiração por esta maravilhosa mulher.
Para evitar a forca Mary, bem como outros prisioneiros foram deportados.
Nesta longa viagem que a espera, podemos aperceber-nos de que os direitos Humanos nem sempre são respeitados e que no que toca aos prisioneiros não têm significado algum, pois estes são tratados como animais.
Nesta viagem a sobrevivência é fundamental e para isso qualquer coisa é válida para se poder sobreviver. Com todo este percurso da vida, muitos laços se criram, uns bons outros maus, registam-se ainda muitos nascimentos bem com muitas mortes. Para poder sobreviver e suportar todos estes desafios Mary mostra uma enorme coragem e mesmo nesse mundo tão cruel esta consegue obter o respeito de todos.
“Num dia apenas, com um gesto só, a vida de Mary mudou para sempre e não da forma que ela alguma vez teria imaginado.”
A mim esta história deixou-me por muitas vezes revoltada devido a todas estas injustiças. Posso também dizer que Mary passou a ser uma pessoa por quem tenho uma grande admiração devido a toda a natureza e foça com que conseguiu lutar para sobreviver a todas estas partidas da vida. Tenho muita pena que ninguém nunca se tenha interessado em saber o que foi feito desta mulher que demonstrou ao longo de todo o livro uma humanidade enorme, bem como uma aquisição de muitos valores.
- Mélodie